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Entre x-saladas e refris: conheça Wesley Napão, 1º herói do Manaus FC

A chapa é quente e o micro empreendedor à frente dela também. Sorridente e carismático, o atacante Wesley Napão, primeiro herói da história do Manaus FC na elite do futebol amazonense, deu um tempo na bola e hoje faz golaços numa lanchonete popular no bairro Monte Pascoal, na Zona Norte da capital amazonense. Em tempos de entressafra no mercado da bola no Estado, a dignidade entra em campo contra o fantasma do desemprego.

“A dignidade vem de berço e, graças a Deus, tenho uma família que sempre me ensinou o valor do trabalho. Minha noiva e o meu sogro também sempre dão muita força. O ganha pão pode ser jogando bola, que é o sonho quase todo menino de periferia, ou pode ser em qualquer outra atividade”, filosofa o trabalhador-atleta de apenas 23 anos e muita vontade de ganhar o jogo da vida.

 

Uma noite memorável…
Se neste domingo, 18 de agosto, a Arena da Amazônia estará completamente lotada para a final da Série D do Brasileirão de 2019 entre Manaus FC e Brusque-SC, parte dessa história também se deve à contribuição do “Velho Napa”, como ele é chamado carinhosamente no mundo da boleiragem do Amazonas.

No dia 6 de junho de 2017, na própria Arena, Napão saiu do banco de reservas do técnico Aderbal Lana, então comandante do Gavião do Norte, para fazer o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Nacional. A partida na qual Wesley foi protagonista era válida pela ida das finais do Amazonense daquele ano. Detalhe: aos 46 minutos do segundo tempo. Gol de centroavante das antigas. Oportunismo puro dentro da pequena área. No dia seguinte o jovem atacante revelado no Projeto Bom de Bola era capa em todos os jornais do Estado.

Considerado por muitos torcedores o primeiro herói do Manaus FC, já que o meia atacante Hamilton não jogou aquele confronto, Napão revelou que falou para os companheiros de time que, se entrasse na partida, ia guardar o seu gol. Cumpriu a promessa e entrou na história do clube e do futebol amazonense.

“Vinha treinando bem. O Lana me deu oportunidade. Sei que ele gosta de mim, sei disso. Quando estava aquecendo, até brinquei com os outros meninos dizendo que ia fazer o gol se entrasse. Na hora que ele (Lana) me chamou, vim com tudo e, graças a Deus, consegui fazer o meu”, disse Napão logo após aquela partida.

No jogo de volta, dia 10, também na Arena, o Gavião do Norte ficou no empate por 1 a 1 com o Leão da Vila Municipal. O lateral-esquerdo Negueba, de falta, marcou para o Manaus FC, enquanto Jefferson Siqueira anotou o empate para o Nacional. Foi o primeiro título do clube na divisão de elite, e o feito histórico serviu de trampolim para o acesso à Série C de 2020 e o sonho de disputar uma final de Brasileiro da Quarta Divisão de 2019.

“É uma honra fazer parte dessa história. A gente que joga no futebol amazonense não torce para um clube somente, a gente torce por todos porque a gente sabe que se subir um todos ganham, os clubes e os jogadores. Sou feliz por fazer parte da história do Manaus FC, porque sei que daqui a 100, 200 anos o meu nome vai estar lá como autor de um gol que ajudou no primeiro titulo do clube na Série A do Amazonas”, exalta o Velho Napa.

Bicampeão…
Depois do título de 2017, Napão ainda foi bicampeão amazonense com o Manaus FC em 2018, fazendo dois gols e contribuindo com a campanha quase perfeita do grupo vencedor liderado pelo técnico Igor Cearense. Jogou também a Copa Verde, incluindo a semifinal contra o Paysandu. O atacante também esteve com o grupo iniciou a campanha na Série D do ano passado – no meio da competição, ele foi contratado pelo Juventus-SC. Em 2019, jogou o Amazonense pelo Sul América, e fez valer a “Lei do Ex” com gol no Manaus FC no primeiro turno. Na Copa Verde atuou pelo Fast Clube.

Se vira nos 30…
Tal qual a maioria dos jogadores brasileiros, Napão vive a realidade do mercado. Como a maior parte do ano é sem contrato, ele estava atuando como motorista de aplicativo (Uber). O negócio não prosperou e o atacante resolveu mudar de ramo. Com ajuda de todos da família, montou na semana passada o “Lanche do Napão”, localizado na Rua 3, número 35, no bairro Monte Pascoal.

“Estava trabalhando de Uber, mas não deu muito certo, então segui a dica do meu sogro, que já tinha um lanche no Petrópolis, e montei meu próprio negócio aqui na casa dos meus pais aqui no bairro Meu pai, minha mãe, meus irmãos e amigos me deram todo o apoio e estamos aí tocando o lanche”, conta o jogador.

Guardadas as devidas proporções, o negócio da lanchonete é comparado pelo atleta com um dia de futebol. O “treino” é a correria da manhã e tarde, na busca dos insumos com os fornecedores. O “jogo” acontece das 18h até meia noite, gerenciando o negócio e fazendo as relações públicas com os clientes, sedentos para saborear as especialidades da casa – combos de x-salada, pizzas, yakisobas e refrigerantes.

“Essa batalha começou na semana passada e vem dando tudo certo, inclusive temos alguns clientes do próprio futebol que estão vindo prestigiar o lanche. Sobre o futebol ainda tenho muita lenha para queimar, pois vem aí a Série B e vou começar a avaliar algumas propostas”, conclui o atacante, com um refrigerante numa mão e três x-saladas na bandeja.

Domingo, Napão não estará na Arena da Amazônia. Mas a história com o Gavião do Norte terá outro capítulo: a lanchonete será aberta mais cedo para receber todos os clientes e amigos do bairro para assistir ao jogo pela TV. São os novos tempos de um clube que ousou voar alto no cenário nacional. 

 

Faça seu pedido do Lanche do Napão: (92) 99419-1231

 

Texto: Emanuel Mendes Siqueira (92) 99122-3785
Fotos: Raiana Barreto, Emanuel Mendes Siqueira e Divulgação

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