Um viaduto e muitos sonhos. É nas manhãs de domingo que o projeto Coach Boxe Amazonas vai às ruas para levar o esporte a quem não pode pagar. Um pouco antes da pandemia de Covid-19, o professor Marcelo Brother levou o boxe para o viaduto do Boulevard, e os primeiros treinos foram um sucesso, com cerca de 50 alunos participando. Mas aí tudo fechou e ele, que ganha a vida ensinando artes marciais, teve que adiar um pouco o sonho de ver um espaço urbano ocupado pelo esporte.
Mas não por muito tempo. No último domingo (12), Marcelo e sua equipe retornaram ao viaduto, de forma tímida, é verdade, mas o suficiente para reacender a chama de um projeto que tem um objetivo muito nobre: tirar jovens da criminalidade e formar lutadores.
Segundo Marcelo, que está no mundo da luta há 22 anos, a ideia do projeto embaixo do viaduto é antiga, mas só agora conseguiu sair do papel. Ele conta que a iniciativa nasceu da nescessidade de ocupar aquele espaço público, que estava nas mãos da criminalidade, com algo produtivo.
“Antes, esse espaço era ocupado por usuários de droga e muita gente era assaltada nessa área. Eu moro aqui perto e senti que podia fazer algo para mudar essa realidade, mas infelizmente são poucos os que querem de fato ajudar, e há seis anos a gente vem tentando conseguir autorização para instalar o projeto de vez aqui”, conta.
Marcelo destaca que o grande objetivo é dar oportunidade a quem se interessa por luta e formar, além de atletas campeões, cidadãos comprometidos com o coletivo.
“Aqui embaixo do viaduto, queremos difundir o projeto ‘Comunidade do Esporte’, não só com Boxe, mas com Muay Thay, Kickboxing, e outras modalidades que pretendemos trazer para cá quando pudermos nos instalar de fato, e aqui formar campeões. Nosso maior objetivo é tirar crianças e adolescentes das ruas e dar essa nova perspectiva”, disse.
O professor Ivan Junior, hoje com 40 anos, é um dos alunos de Marcelo que ajudam coordenando o projeto. Ele conta que, de primeira, achou pouco usual a ideia de levar os treinos para debaixo do viaduto, mas acabou convencido de que daria certo.
“Quando ele me falou sobre levar o projeto para o viaduto, eu perguntei ‘mas vai dar certo, professor?’, e aí ele me explicou que o objetivo era muito maior, que daqui vão sair grandes nomes do MMA, Boxe, Muay Thay. Aí eu não tinha como ficar de fora, pela gratidão que tenho a ele, e pela causa, que é mudar a vida das pessoas pra melhor, mostrar uma outra realidade”, disse.
Outro jovem que teve a vida modificada pela luta foi Mário Junior, de 29 anos, que há 14 é aluno de Marcelo Brother. Ele conta que teve uma adolescência problemática, até conhecer o professor, que com acolhimento, o ajudou a ser a pessoa e o atleta melhor que ele é hoje.
“No início da adolescência acabei me envolvendo com drogas, brigava na rua e cheguei até a ser preso. Quando saí, resolvi me engajar na luta, sofri com o preconceito por já ter sido preso e cheguei a ser expulso de uma academia. Quando conheci o Marcelo, em vez de ser julgado, fui acolhido e aí eu vi que poderia não só me tornar um grande lutador, mas também um bom cidadão, e voltei acreditar no ser humano. Minha gratidão a ele é eterna, porque se não fosse pelo Marcelo, eu sinceramente não sei onde poderia estar. Hoje eu tenho meu trabalho, a luta e acredito no meu futuro”, relata.
O treinos continuarão acontecendo aos domingos, a partir das 9h, embaixo do viaduto do Boulevard, em frente ao Olímpico Clube. A participação é gratuita e crianças a partir de 5 anos já podem treinar.
Texto: Marcos Dantas
Fotos: Jhonathan Carvalho