Disseminada desde o século XVI, a capoeira é uma arte que cada vez mais se torna atual. Exemplo disso foi a quinta edição do Jungle Meeting – Encontro na Selva – que ocorreu em Manaus desde sexta-feira, 17, e encerrou neste domingo, 19, apresentando encontro de gerações e difundindo esporte, cultura popular e música. O evento aconteceu em locais distintos da capital e reuniu mais de 1.500 admiradores da modalidade, entre mestres, professores e alunos. A ação também foi alusiva à semana da Consciência Negra e recebeu apoio da Canopus Motos Honda e Batalhão de Polícia Ambiental do Amazonas.
Um dos momentos mais significativos do Jungle foi a roda de capoeira formada em cima de uma balsa no famoso cartão postal do Amazonas, o Encontro das Águas. Aliando meio ambiente e movimentos ágeis e complexos dos capoeiristas, o ambiente exalou boas energias e reforçou uma das bandeiras desta modalidade, que é prezar pela proteção da natureza, dos recursos e do clima.
Segundo Beto Simas, conhecido também como mestre Boneco, o esporte é porta-voz de várias lutas e isso deve ser aproveitado.
“É muito importante ter uma iniciativa dessa, uma vez que estamos vivendo um período de pouca consciência ambiental. O aquecimento global, as derrubadas de florestas, a exploração animal, tudo isso faz parte do nosso cotidiano e cabe a nós, que temos espaço através desta arte linda que é a capoeira, chamar atenção para esses descansos que precisam ser revertidos. São esses momentos que nos levam a reflexão e nos permitem lembrar que a natureza deve ser respeitada sempre e a capoeira é o encontro perfeito para isso”, comentou Simas.
Fundador do grupo Capoeira Brasil (1989), que atualmente está em mais de 40 países, Mestre Boneco ainda comentou que a arte marcial é uma ferramenta social, que não somente propaga valores, costumes e qualidade de vida, mas também contribui para o crescimento do País. O capoeirista e ator de 55 anos iniciou no esporte aos 14 anos e atualmente é corda preta e um dos maiores incentivadores desta modalidade, tanto no Brasil quanto no exterior. Além disso, por meio de novelas e filmes, consegue popularizar a arte.
“Hoje a capoeira está em mais de 160 países e essa arte é um fenômeno. Com ela, os alunos aprendem Português, fazem questão de vir para o Brasil para conhecer mais essa cultura da modalidade, e acredito que quem divulga a capoeira faz um trabalho muito maior que qualquer embaixada. Hoje eu considero a capoeira transformadora, pois ela é filosofia de vida, cultura, esporte, expressões, música, e reúne uma série de ferramentas importantíssima e agregadoras. Essa arte me deu tudo na vida e só quero retribuir este bem, seja através do meu trabalho, meus alunos, filhos ou amigos”, afirmou.
Capoeira mudando vidas…
Misturando inglês, espanhol e português durante a entrevista devido às inúmeras localidades por onde passou, Mestre Aranha é símbolo que a capoeira pode mudar vidas. Oriundo de família humilde de Tumiritinga, interior de Minas Gerais, com 11 irmãos, ele conheceu a arte há 40 anos através do lendário Tete Galinha e, desde lá, tinha o objetivo de ganhar o mundo com aquilo que se tornou sua paixão. Após andanças e muitas rodas pelo Brasil, passando por quase todos os estados do País, ele conseguiu chegar a Colômbia, iniciando o esporte por lá, e fundando a primeira academia em Bogotá, a Nativos.
“A capoeira é uma ponte para o estudo, para formar cidadãos, para dar oportunidade de conhecer lugares, culturas, pessoas, de renda. Graças a ela, eu consegui ter perspectivas na vida, abrir os horizontes e aproveitei as oportunidades. Atualmente estou em Londres, e minha missão lá é ensinar e propagar a capoeira aos londrinos. Tenho muitos alunos fora do Brasil, e apesar de muitos não terem o gingado do brasileiro, eles tem o mais importante, que é a disciplina. Compromisso é tudo nesta vida e acredito que muito por isso os membros de outros países vêm sendo reconhecidos nesta arte e ganhando cada vez mais espaço. E a arte é isso, de quem trata melhor”, frisou.
Durante ação no Shopping Ponta Negra, onde levou à população oficinas gratuitas, Mestre Mão Branca (BH) destacou que nos últimos tempos a capoeira está deixando de ser uma arte discriminada. Segundo ele, a prática vem sendo cada vez mais democrática e derrubando as diferenças sociais.
“A capoeira hoje em dia não é somente uma arte do pobre, do negro, daquele mais humilde. Ela cresceu muito, é admirada, e conseguiu derrubar preconceitos e discriminações que desvalorizavam o esporte. O branco, o rico, o classe média, o jovem, a criança, o mais velho é praticante e isso tende atingir as esferas políticas, empresariais, religiosas e faz a capoeira crescer nas capitais, nos interiores, e em todo o mundo”.
Para o organizador do Jungle Meeting, Vander Araújo, conhecido como Mestre Pililim, o evento mostrou a importância da modalidade, deu oportunidade às pessoas para conhecer o esporte, e valorizou esta arte que é Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Vivemos um marco durante esses três dias, encerrando as atividades na Faixa Liberada da Ponta Negra e nossos objetivos foram alcançados. Um evento como esse proporciona intercâmbio, enriquecimento cultural e social, bem como a ascensão desta arte. Este ano, nos surpreendemos com o número de participantes, e tenho certeza que as próximas edições também vão ser um sucesso. Algo que nasceu com 200 mestres e professores, hoje é reconhecido. Todo meu respeito e agradecimento aqueles que lutam e fazem de suas vidas um sacerdócio a esta arte que salva e encanta”, encerrou Pililim.
Texto e fotos (1 a 4): Nathália Silveira/Promover Assessoria
Foto 5 (abertura na Vila Olímpica): Emanuel Mendes Siqueira